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Nos últimos meses, imagens de oferendas religiosas, conhecidas como ebós ou despachos, passaram a circular com intensidade em grupos de mensagens e redes sociais em Nova Mutum/MT. Fotos e vídeos mostram garrafas de cachaça, velas, farofa, bilhetes com nomes, símbolos traçados no chão e, em situações que mais chamam a atenção, cabeças de animais, como bodes. O conteúdo tem provocado apreensão e medo em parte da população, mas especialistas e líderes religiosos alertam: trata-se de práticas legítimas de religiões de matriz africana, como a Umbanda e o Candomblé.

Esses rituais têm origem nas tradições africanas trazidas ao Brasil por povos escravizados e preservadas ao longo de séculos, muitas vezes por meio do sincretismo religioso. As oferendas são direcionadas a orixás, exus ou pombagiras e simbolizam pedidos de proteção, prosperidade, equilíbrio ou limpeza espiritual. Os itens utilizados carregam significados específicos: a cachaça é associada a determinadas entidades, as velas representam iluminação espiritual e, em rituais mais complexos, há o sacrifício de animais, prática prevista na tradição e cuja carne é consumida pela própria comunidade, sem desperdício.

O crescimento da Umbanda em Nova Mutum acompanha um movimento nacional de retomada e valorização da espiritualidade ancestral, especialmente entre a população negra, mas não restrito a ela. Esse avanço, no entanto, também evidencia desafios históricos, como a intolerância religiosa e o racismo estrutural que, ainda hoje, associam essas práticas a algo ilícito ou ameaçador.

Integrantes da própria comunidade religiosa reconhecem a necessidade de diálogo e orientação. Em conversas recentes, praticantes destacaram a importância do respeito mútuo e sugeriram que adeptos mais jovens sejam instruídos a recolher materiais não perecíveis após os rituais, contribuindo para a preservação dos espaços públicos e reduzindo conflitos com moradores.

O debate se intensifica nas redes sociais, onde comentários desinformados reforçam estigmas e preconceitos. Juristas e líderes religiosos lembram que a Constituição Federal assegura a liberdade de crença e de culto, protegendo expressões religiosas de todas as matrizes. Para eles, o caminho passa pela educação, pela informação e pela promoção do diálogo inter-religioso.

Em um município em constante crescimento como Nova Mutum, a maior visibilidade dessas manifestações pode representar mais do que desconforto inicial: é uma oportunidade de ampliar o respeito à diversidade, combater a intolerância e reconhecer as heranças afro-brasileiras como parte fundamental da identidade cultural do país.

Por Powermix